21 de setembro de 2011


Geração touchscreen


Festa de criança. Salão de jogos. Eu, acompanhando meu filhotinho Gui, que está com dois anos e nove meses. No meio dos brinquedos, dois computadores – desktops – à disposição da curiosidade dos pequenos, praticamente peças de museu. Um amiguinho do Gui envolve o mouse com as mãozinhas fofas e, com desenvoltura, clica nos ícones, aciona o game e começa a brincar. Meu Gui olha para a cena, estupefato. Afinal de contas, o que é aquela peça engraçada (o mouse) que permite que o amiguinho acione o sonhado joguinho?
Deixei o pequeno tentar. Estava com as mãozinhas meladas de bala e o mouse grudou na palma das mãos, dificultando ainda mais a interação. Eis que ele se apodera do micro e começa a empurrar o mouse de um lado para o outro, sem sacar a história da setinha na tela – não consegue linkar um ao outro.
A luta continua. Ele não entende o periférico e, por instinto, coloca a mãozinha na tela do desktop para selecionar o game. Sim, amigos, meu garoto faz parte da Geração Touchscreen e acha que tudo se resolve metendo o dedão o display!
Vocês sabem do que estou falando – o Gui é a resposta para a pergunta que Nicholas Negroponte (criador do projeto One Laptop per child, OLPC) fez no TED.com em 1984: afinal, para que ter um mouse entre você e o computador se o natural seria você colocar logo o dedão e selecionar o programa que deseja abrir?
Incrível, mas dia desses fui rever o TEDTalk do Negroponte. E continuo chocada com a capacidade que ele teve de prever todos os fenômenos que temos visto aparecer nos últimos anos.
Negroponte se mostra indignado com a existência do mouse – e jura não ser implicância. A Xerox já tinha apresentado o seu em 1981 e, em 1983, a Apple adotou o periférico em seu computador Lisa. Negroponte não era o único detrator do mouse. O até hoje conceituado colunista de tecnologia John Dvorak chegou a dizer, à época, “não há evidência que as pessoas queiram usar essas essas coisas”.
Cá entre nós, do ponto de vista ergonômicro o mouse não ajuda muito – ele serve como ponte entre o usuário e a máquina e pode causar lesão por esforço repetitivo (LER), um problema de saúde muito sério. A sorte é que o avanço da tecnologia mostrou que ele é totalmente dispensável diante da possibilidade de interação direta homem-máquina.
Meu filhotinho não entende o mouse porque nasceu na era iPhone. Desde antes de ele nascer eu já não usava desktop, apenas notebook. (e sem periféricos, nem teclado extra nem mouse nem caixas de som). Com a chegada do iPhone, passei a usar mais o celular do que o notebook e, depois do iPad, a coisa ficou ainda mais complicada. Agora, tenho um mouse da Apple que comprei apenas pelo impulso e porque ele parece uma joia, protegida dentro daquela caixa linda de acrílico. Culpa de Steve Jobs, o gênio!
O Gui pertence a uma nova geração que interage com a tecnologia da forma mais natural possível, sem intermediários. E se hoje o dedo ainda é o mensageiro, muito em breve nem isso: bastará ele olhar para o notebook (ou algo que o substituirá), piscará os olhos e acionará os programas. Ou usará a voz para comandar as funções. Nada mais simples que isso.
Se pararmos para pensar, o touchscreen faz o maior sentido: torna mais simples o acesso às funções e dá todo o poder ao usuário. Mas temos um problema: para quem precisa digitar muito, o uso da ponta dos dedos não é a ideal. E aqui está um grande nicho esperando para ser atendido pela cada vez mais voraz indústria de tecnologia: há que se criar alguma coisa que vá além do teclado Bluetooth (o ideal não seria ter cada vez menos equipamentos, condensando as funções em um único aparelho?) e que facilite a inserção de dados. Comando de voz? Por que não? Ouso sonhar com a telepatia, mas ainda não chegamos a tanto. Questão de tempo, concordam?
Fico pensando o que será feito dessa geração touchscreen. Já há e-readers, telefones, notebooks, tablets touchscreen. Mas a TV ainda não o é – pelo menos não as domésticas. E meu filho também não entende isso. Está sempre tentando tocar na tela dos aparelhos – já o peguei fazendo isso na TV e no notebook e deu certo com o micro-ondas, que ele comanda sob minha supervisão.
Estamos falando, claro, sobre uma leva de sortudos cujos pais estão na vanguarda da tecnologia – é o caso do meu Gui. Mas há uma porcentagem grande de crianças que sequer desktops com monitor de CRT têm em casa. E mais uma vez se desenha um gap imenso entre os que possuem acesso à tecnologia e aqueles que dela ficam distantes. Um gap que, espero, o avanço tecnológico e os incentivos à produção podem ajudar a diminuir.

Copiado na íntegra de http://www.techtudo.com.br/platb/mobile/2011/02/22/geracao-touchscreen/

ter, 22/02/11
por Elis |
categoria Tecnologia

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